-
Dizem que as fakes news são verdades reelaboradas por isso são notícias
convincentes.
-
Não, idiota, as notícias falsas são fakes news, é só traduzir.
-
Mas toda tradução é tautológica e dá margem para várias interpretações. O falso
é prejudicial e para ser convincente precisa de certa sofisticação, veja o caso
desse vinho, o verdadeiro custa o olho da cara, o falso é menos caro, mas ainda
é sofisticado, apenas mais acessível, e alcança um público maior. O falso tem
esse poder sobre a realidade e as pessoas.
-
Esse vinho é realmente falso? Porque está maravilhoso!
-
Está vendo? O falso traduz outras verdades em nossas vidas, basta reconhecer sua
condição de não verdadeiro. Convivemos com isso há anos. O que são fatos senão
interpretações?
-
Vamos deixar essa conversa de lado ou vamos nos tornar fascistas (risos).
A
menina tinha ideias brilhantes, mas pouco brio. Entrava e saía de qualquer
ambiente com a máscara que lhe cabia melhor. Em um momento era aprendiz, em
outro, conhecedora absoluta de todos os assuntos, quase douta. Entrou em crise
existencial após mergulhar em si mesma e se saber nada, o absoluto nada, onde
pensara ser todo mundo era ninguém. Não havia quem pensasse mais em sua
existência. Aquela juventude se transformou num tempo solitário. Cadê os
ponteiros da alegria? Envelhecera. Sentada na cadeira da varanda diante da
noite melancólica tentava esquecer todos os amigos das horas idas, esvaídos nas
nuvens carregadas pelo vento a tentar alcançar o céu distante. O entusiasmo da
vida desfazendo-se juntamente com as células adormecidas. Um cheiro estranho,
forte, intenso subiu pelo jardim da janela lateral e pousou sobre sua perna
fraca, pensara ser a morte lhe perscrutando. Era um percevejo. Matou a morte
fétida sem perdão. Aquela menina ainda queria viver, mas sentia um sono
profundo diante de tanta ausência e efemeridade no século que ainda conseguira
adentrar. Se a morte era fake ela jamais saberia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário