Ela
era uma mulher amalgamada com um jovem abastado. Talvez a relação seja de
interesse, enquanto ela evitava a solidão, ele desfrutava do luxo. E assim
formaram uma família. Um casamento de aparência?! Não. Um casamento de
trocas. A noiva sempre fora uma pessoa humana, amorosa e dócil, querida por
todos os familiares, sem exceção. Mas algo mudou nela com esse vínculo, ou será que ela sempre fora uma pessoa dada ao materialismo individualista e
cruel e ninguém havia percebido?
Sim,
porque a sociedade contemporânea é capitalista neoliberalista e a função do
sujeito é manter o sistema girando a roda da fortuna das elites e dos
trabalhadores, menos a dos pobres. E há uns pobres coitados que nem merecem
consideração. É o que o capitalismo faz com as pessoas, objetifica-as ou as
desqualifica. Você é o que você consome, não na perspectiva sustentável, do
ponto de vista quantitativo e mercadológico. Bolsa de grife, roupa de marca,
sapatos caros, figurinos prontos e estilizados para a grande atuação no palco
social.
As
máscaras também lhe são muito caras, pois é custosos ter de interpretar um ou
outro personagem em cada setor da sociedade, sempre mantendo a pose elitista,
esnobe e simulando, simultaneamente, a simplicidade que deve ser natural para um milionário. A burguesia fede.
***
Ela,
que era uma rosa perfumada, perdeu a sua essência para o príncipe que a salvou
da torre. Mas não a livrou da morte, simbólica. Seus sonhos tornaram-se desejos
de joias e diamantes, mansões e palácios.
Queria
a grandeza do mundo material, as coisas mais supérfluas, os bens superficiais,
e assim se tornaram rei e rainha de um reinado pobre de princípios e valores,
não havia mais o que vender ou o que comprar, então a moeda passou a ser a
informação sobre a vida alheia, as estórias mais assustadoras tinham um valor
maior, as que causassem mais estragos nas relações afetivas também. O rei e a
rainha, com tanta riqueza, puseram olheiros nas ruas para escutar as conversas,
e foram acumulando ainda mais riquezas. Até o dia em que um lindo jovem foi
revelado como amante do rei. Não se sabia o valor da notícia, mas se sabia o
preço da difamação.
O
reinado entrou em decadência, pois o rei e a rainha começaram a brigar e vender
notícias um sobre o outro. Perderam tudo, dinheiro, luxo, dignidade. Mas ainda
tinham uma carta na manga. O livro das estórias, que foi vendido para uma
contadora com a condição de reescrever o livro e substituir as riquezas
materiais do reino por riquezas imateriais, pregando o amor e a gentileza.
Nas coisas que dinheiro não compra, quem conta um conto aumenta um ponto...