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sábado, 20 de janeiro de 2024

Como o escritor mata o inimigo

A sangue frio, coloca seu nome nos versos, enquanto rasga seu corpo em pedaços, cortando parte por parte com um pincel de ponta fina e precisa. Reserva uma parte do corpo na geladeira e a outra deixa separada para fazer feitiço para que nunca mais seus fantasmas assombrem. Após alguns meses de frieza, retira alguns órgãos predestinados à dissecação e exame patológico, buscando encontrar a raiz de toda a desumanidade. Estômago e intestino são os iniciais, ligados às emoções cruciais. Em seguida, vem o coração. Este deve pulsar ainda dentro dos punhos fechados como um sacrifício aos deuses e às deusas, para fazer derramar todo o sangue sobre o Totem que irá purificar a sua existência bestial, retirar a Marca de Caim que o acompanha por gerações e o torna vítima de sua própria maldade. Por fim, a boca e a língua são colocadas num frasco de vidro – daqueles usados em laboratórios – que mantenha uma boa refrigeração e flexibilidade, o frasco deve ser lacrado  e etiquetado com o último verso. Assim o silêncio impera sobre todo mal que lhe sai pela boca. Assine sua petição de defesa:

Eu, poeta, venho respeitosamente, perante Vossa Excelência, por seu Representante Legal, apresentar minha defesa prévia pelas razões de fatos e fundamentos a seguir expostos.

Como poeta, reservo-me o direito de matar a sangue frio todo aquele que se declare meu inimigo. Alegando não haver sangue, nem morte, meramente versos ou prosa ficcional que não se caracteriza por nenhuma prova concreta.

A arte em si aniquila seus desafetos.

 




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