A sangue frio, coloca seu
nome nos versos, enquanto rasga seu corpo em pedaços, cortando parte por parte
com um pincel de ponta fina e precisa. Reserva uma parte do corpo na geladeira
e a outra deixa separada para fazer feitiço para que nunca mais seus fantasmas assombrem.
Após alguns meses de frieza, retira alguns órgãos predestinados à dissecação e
exame patológico, buscando encontrar a raiz de toda a desumanidade. Estômago e intestino
são os iniciais, ligados às emoções cruciais. Em seguida, vem o coração. Este
deve pulsar ainda dentro dos punhos fechados como um sacrifício aos deuses e às
deusas, para fazer derramar todo o sangue sobre o Totem que irá purificar a sua
existência bestial, retirar a Marca de Caim que o acompanha por gerações e o
torna vítima de sua própria maldade. Por fim, a boca e a língua são colocadas
num frasco de vidro – daqueles usados em laboratórios – que mantenha uma boa
refrigeração e flexibilidade, o frasco deve ser lacrado e etiquetado com o último
verso. Assim o silêncio impera sobre todo mal que lhe sai pela boca. Assine sua
petição de defesa:
Eu, poeta, venho respeitosamente,
perante Vossa Excelência, por seu Representante Legal, apresentar minha defesa
prévia pelas razões de fatos e fundamentos a seguir expostos.
Como poeta, reservo-me o
direito de matar a sangue frio todo aquele que se declare meu inimigo. Alegando
não haver sangue, nem morte, meramente versos ou prosa ficcional que não se
caracteriza por nenhuma prova concreta.
A arte em si aniquila
seus desafetos.
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